domingo, 31 de outubro de 2010

Romeu, Julieta e Rapunzel?

A Floresta dos Troncos Ocos amanheceu esquisita demais. As árvores da noite para o dia perderam as folhas e as cacatuas que faziam revoadas ao alvorecer cederam lugar para um bando de morcegos e urubus que voavam tão baixo que levantavam poeira.

A família de esquilos colocou uma plaquinha na porta com a seguinte mensagem:
“Estamos simulando um velório por favor não atrapalhe”

E bem lá no meio das grandes sequóias, na casa da árvores, um ruído irritante que pelo decibéis podia ser ouvido em outras galáxias.

- Que chiadeira é essa? – bradou Fuly como se estivesse indo para guerra
- É a Marin e o Pelligonha! - respondeu Harley sobre um banquinho manco por onde tentava enxergar através da fechadura o que Marin estava aprontando
- O que esta berruga falante está fazendo com Pelligonha dentro do banheiro?
- Se eu soubesse não estaria aqui! – retrucou Harley fazendo cara de lerda para Fuly
- Sai daí que eu quero ver um cadinho!? – respondeu Fuly cutucando Harley
- Daqui eu não saio, daqui ninguém me tira...Cheguei as cinco da matina e aqui ficarei até descobrir o que esse ser amorfo está tramando.

Fuly chutava o ar, fazendo zunidos com seu Kichute rosa. Os poucos pernilongos que tentavam sugar um sanguinho fresco capotavam e se arrebentavam na parede devido aos mini-tornados provocados pelos chutes.

Dentro do banheiro 4x4, estava Marin assentada numa cadeira de dentista, que havia comprado num leilão de tranqueiras toscas. Peligonha ficava regulando a altura da cadeira, que mesmo estando no limite ainda não dava para ela se ver no espelho.
- É hoje que encontrou o meu Romeu! Veja como meus cabelos estão sedosos. Fale Peligonha não sou a cara da Rapunzel?

Peligonha mexia a cabeça em negação, pois até ele sabia que o grande amor de Romeu não era Rapunzel, mas Julieta.

Do lado de fora Harley quase caiu do banquinho cotoco ao ver o que Marin estava fazendo.

Fuly meteu o pé no banco jogando Harley no chão e assumiu seu lugar.
- Santa Maria Cabeluda! Qual a festa que você vai assustar? – berrou Fuly
- Cala boca Fuly! Você não sabe de nada. Hoje sairei dessa torre para nunca mais voltar.

Marin continuou se arrumando. Pelligonha colocava o bico sobre o suporte de panela para foundue no intuito de aquecê-los.

- Que catinga de bicho morto!
- Ninguém morreu ainda, esse bodum é porque Pelligonha resolveu assar o bico.

Harley não acreditando no que Fuly estava transmitindo, empurrou-a do banquinho e reassumiu seu lugar.

Pelo buraco da fechadura ela via Marin pegando Pelligonha pelos pés como se fosse um objeto, colocou os cabelos no meio dos bicos da ave alisando assim suas madeixas.

- Que Jesus tape os olhos na cruz! – disse Harley abismada com a cena trash
- O que é que essa emo agora ta aprontando? – perguntou Fuly ainda no chão
- Tá passando o Pelligonha no cabelo para alisá-los.

Depois de passar e repassar os bicos de Pelligonha nos cabelos, a aspirante a Rapunzel resolveu abrir a porta.

- hahahahahah...Medusa perto de você é miss mundo – Fuly não se conteve ao ver o estado de marin
- Você pretende assustar alguma festa? – perguntou Harley se mantendo séria, mas morrendo de vontade de rir
- Preciso que vocês façam uma trança em mim! – exclamou Marin com cara de piedade

Pelligonha que vinha abanando os bicos com um leque tapou os olhos com uma das asas com vergonha de ter sido usado como chapinha de cabelos.

- Ei chapagonha, dá para alisar meus cílios? – perguntou Fuly zuando da pobre ave
- Andem façam logo a trança, antes que Romeu morra! E se ele morrer terei que me matar.
- Então vamos assistir a morte dele! – exclamou Fuly medindo a “cabelança” da colega
- Fuly, ela esta confundindo os personagens. – informou Harley tirando fotos de Marin
- Marin sofre de DCP(Distúrbio Compulsivo de Personagens). – respondeu Fuly consultando o Compêndio de Neuras escrito pela Dr. Fedora Froid.
- E o que faremos para que essa neurótica volte ao normal? – argüiu Harley postando as fotos de Marin no twitter

Sem responder Fuly saiu correndo para o quarto e em poucos segundos estava de volta vestida para amar.

- Não vai me dizer que você também está “disturbada”?
- Claro que não sua anta eletrônica! Temos que fazer que ela desperte e para isso me transformei em Romeu.
- E desde quando Romeu salvou Rapunzel?
- Desde nunca, só na cabeça pinel dela que essa hipótese existe. Tome vista essa roupa !


Fuly pegou o disco de vinil do filme Romeu e Julieta e o colocou na radiola. Enquanto isso Harley se fantasiava de Julieta. Pelligonha maqueba acompanhava tudo de dentro da geladeira tentando diminuir a queimação de seu bico.




Marin ao ouvir a música correu para janela e mesmo sem trança, tacou a cabelada lá de cima.

- Romeu, meu amor! Estou aqui! Venha suba nos meus cabelos.

Lá embaixo, fazendo um teatro de quinta categoria, surgiu Romeu(Fuly) e Julieta(Harley) devidamente caracterizadas. Até mesmo a cotovia tão falada na obra de Shakespeare estava presente sobre o ombro de Julieta.

- Rapunzel sua pinel, não posso mudar o rumo da estória. Sempre amei Julieta e para sempre vou amar.

Romeu de joelhos catou a mão de Julieta e a beijou, fazendo com que Marin pudesse acreditar no que acabra de dizer.

- Romeu, não vai me dizer que não que me ama porque não dei conta de fazer tranças.
- Não é isso sua estafer...Rapunzel, o amor que sinto está além do meu alcance. E para falar verdade vocÊ não faz o meu tipo.


Ao falar isso Fuly(Romeu) saiu de mãos dadas com Harley(Julieta) e deixou um recado no bico da cotovia que o entregou para Marin(Rapunzel).

- Rapunzel você está na estória errada.E o que é pior está querendo criar um relacionamento impossível, pois Romeu nem sabe quem foi Rapunzel. Aconselho que se fantasie de Hamlet, fique de frente ao espelho e pergunte: “sou ou não sou, Rapunzel, eis a questão”.