domingo, 31 de janeiro de 2010

As Fuinhas em: O Dilúvio

Gênesis 6:17 - Porque eis que eu trago um dilúvio de águas sobre a terra, para desfazer toda a carne em que há espírito de vida debaixo dos céus; tudo o que há na terra expirará.

Gênesis 7:7 - Noé entrou na arca, e com ele seus filhos, sua mulher e as mulheres de seus filhos, por causa das águas do dilúvio.


A noite chegou mais cedo naquele dia esquisito. Ao meio-dia em ponto, o céu tornou-se noite. Nuvens pesadas faziam a festa mostrando seus poderes através dos trovões, relâmpagos e raios que alastravam a Floresta dos Troncos Ocos. As tocas pré-fabricadas para tatus, tremiam tanto que os pequenos escavadores de terra tiveram que ser internados a pressas devido a labirintite provocada.

Próximo das tocas, na sequóia torta de folhas secas, mais precisamente no lar doce lar das Fuinhas, estava marIn entrando a toda na cozinha como se algo estivesse pegando fogo. A nanica com um tipo muito dos estranhos, com bobs por toda cabeça, subiu no banquinho, e abriu a quarta parte de cima da geladeira quadriplex. As Fuinhas não gostavam de ter coisas convencionais.

- Cadê os ovos?

Pelligonha, o mascote das fuinhas, que parecia uma mistura de pelicano com cegonha, fazia de conta que nem estava ali. Assobiava querendo mostrar sua tranquilidade o que na realidade não era verdade. Tinha receio de que aquele ser amórfico atacasse seu ninho.

Parece que quando não queremos que algo nos aconteça, acontece exatamente o contrário. marIN levantou as sombrancelhas, que mais pareciam taturanas vivas, abaixou os óculos de grau, sobre a ponta do nariz, e olhou para Pelligonha.

- Pelligonha cadê os ovos que estavam aqui?

A ave encabulada levantou a asa apontando para o fogão. mariN sem pensar, deu um salto do baquinho e caiu em cima da enceradeira, que com o baque começou a funcionar, batendo nos móveis, levando marIN para um passeio giratório, que comparado com roda gigante, era pinto.

- Que barulheira é essa!? – exclamou FUly que pelo jeito de andar, estava a ponto de estourar

Batia os pés com tanta força no chão que chegou provocar um mini terremoto nas proximidades.

Meteu o pé na porta de dois lados, como aquelas que vemos em filmes de faroeste, e quando viu o que estava acontecendo caiu na risada.

A enceradeira encerava tudo pela frente. marIN rodopiava tanto que os bobs, ficaram na vertical, dando uma aparência ainda mais anormal.

- Ei teletubbie de cinco chifres, dá para parar com essa bagunça?

Marin não ouvia nada, aliás parecia ter desmaiado. Fuly que não conhecia o significado da palavra tolerância puxou o fio da tomada e a enceradeira brecou duma vez, mandando marin de cara com fogão.

Pelligonha queria rir, mas seu bico cumprido atrapalhava muito. A ave voou posando em cima da cabeça de marIN, que para quem não conhecia cabelo poderia achar que aquele emaranhado era um ninho de cacatuas.

Marin abriu as pestanas, tentando coordenar o movimento de suas pupilas, quando sentiu um treco esquisito lhe fincando a cabeça.

- Pelligonha?!

A ave bicava a porta do forno, mostrando que os ovos que procurava estavam ali. marIn ficou de joelho, algo muito bizarro de se ver, pois a nanica estava parecendo uma peruca ambulante, só via cabelo e bobs estilhaçados. Abriu o forno, e seus olhos encheram de água ao ver que a salvação do mundo, estava ali a sua frente.

Enquanto isso no porão da casa, Fuly, escutava atrás da escotilha uma barulheira danada em meio a uma canção de mil novecentos e adão.

- Harley, vou contar até 1 para abrir essa maldita escotilha!

Harley nem deu trela, continuava com seu traje de engenheira marítima ao som de Raindrops Keep Falling on My Head. Era a melodia perfeita para a ocasião.



Passou dias, tardes e noites, elaborando a estrutura naval. Tinha que terminar aquela arca antes do dilúvio. Faltavam alguns pequenos ajustes. Titanic e o famoso Poseidon comparados ao que construíra não passavam de barquinhos.

A arca possuía quatro andares, um para ela, outro para marin, Fuly, e para os animais.

Olhou pela janela e viu que o dilúvio estava chegando. Tufões, furacões e tsunamis começavam a formar no horizonte.

Fuly contou até um e arrebentou a escotilha com um maçarico.

- São Pedro da água santa! Uma arca, igual a do cara! – exclamou Fuly tão surpreendida com o que via que falou como marIN

- Não sua anta, isso aqui é O Símbolo Perdido! Que pergunta estúpida.

Fuly olhava passando a mão naquela estrutura gigante, querendo assim confirmar o que via.

- Há há há há há, não vai me dizer que isso aqui é mastro. Que ideia mais ridícula, colocar uma bandeira no meio do dilúvio. Ninguém vai tá vivo para ver.

- E quem disse que isso aí é mastro heim?! Isso para seu governo é um snorkle. Essa arca é também um submarino.

- Então pelo jeito o outro cara que tem licença de matar vai esta a bordo. Harley não se esqueça que ele queria dar cabo da gente no aeroporto de Estrumbica.

- Não tem cara nenhum, torniquete de jumento. Sai daqui que preciso terminar essa arca.

Não mais que de repente, pingos de água começaram a cair chamando atenção. Olharam para cima e viram que a água vinha lá de cima da casa.

Harley correu para janela para verificar se podia ser o dilúvio. Mas não. Apesar do dia ter virado noite, o dilúvio ainda não se instalara na Floresta dos Troncos Ocos.

- Da onde será que isso está vindo?

As duas subiram zunindo. Entraram na sala que havia se transformando num aquário. As poltronas, sofás, cadeiras, TVs, enfim todos os móveis estavam flutuando. Nadaram por entre aquela coiserada tentando descobrir de onde provinha aquele aguaceiro.

- Unla gue baguiu! – xingou Fuly falando debaixo da água

Harley que havia se preparado totalmente para o dilúvio, estava munida de snorkles alaranjados, que mesmo no escuro brilhavam devido a fluorescência do equipamento. Colocou-os e fazendo mímicas para Fuly indicava a direção que tinham que seguir.

As duas seguiram em direção a cozinha. Os talheres, o liquidificador funcionando com uma espécie de suco verde, a batedeira batendo água porque dentro não tinha nada, até mesmo o NEMO aquele peixe palhaço que ficou famoso por ter se perdido no mar, estava ali, caindo na risada.

- eixe inguiota! Go fazê bigadinho de gocê! – esbravejou Fuly

Harley ligou a lanterna iluminando todos os cantos a procura de Marin e de Pelligonha. Láaaaaaaa em cima do último andar da geladeira junto com o pingüim de enfeite, estava Pelligonha, toda estrupiada, com os olhos revirados e a asa apontando para o fogão.

- Bássaro iguiota! – resmungou Fuly mandando uma banana para Harley que insistia em comandar a operação naufrágio.

Seguiram para frente do fogão e viram que era de lá que provinha aquele aguaceiro. Marin estava láaaaaa dentro chorando rios de lágrimas que inundaram toda casa da árvore. Ainda com bobs sobre o cabelo emaranhado, ela rezava passando as mãos nos ovos, a oração para Santa Clara:


Santa Clara Clareou
e aqui quando chegar vai clarear.
Santa Clara Clareou
e aqui quando chegar vai clarear.
Os meus caminhos
Os meus caminhos.
Salve Santa Clara
Salve Santa Clara.


->Baixe o papel parede do Pelligonha aqui