domingo, 6 de junho de 2010

Dia dos Namorados

O dia amanheceu tal e qual a cúpula pintada pelo famoso pintor Mikey Angelo.

O céu estava tão azul, mais tão azul, que se ficasse olhando para aquela tonalidade por mais de 23 segundos teria certeza de que o céu não poderia ser de outra cor.

Os pássaros cantarolavam a canção francesa L'Hymne d’Lamour fazendo revoadas em forma de coração. As cotovias voavam de asas dadas desfrutando da belíssima manhã.

O João de barro por sua vez pegou um financiamento e comprou para sua amada, Joana de Barro uma casinha de árvores no estilo vitoriano.

Já os afamados esquilos dividiam apaixonadamente as avelãs caramelizadas que haviam importado de Paris especialmente para esta data, O dia dos namorados.

A Floresta dos Troncos Ocos, poderia ter seu nome alterado para Floresta dos Enamorados. Até mesmo no lar doce lar das Fuinhas podia se ouvir a belíssima música italiana Amore Scusami.




Amore is cu zame
Si to gemendo
Amore is cu zame
Má o capito
Que lãs do poti
Io sofriooooo


- Quem está ouvindo essa música fubazenta? – argüiu Fuly colocando uma faixa na testa com a seguinte frase – Solteira por opção e daí?!

marIN trancou a porta do seu quarto que ficava no porão e colocou o volume no quimba. Os micos que estavam nas proximidades em cima dos galhos caíram com o tremor das árvores devido a altura do som.

marIN nem ouvia o que Fuly dizia, girava de um lado para outro montada na enceradeira novinha em folha que compraram numa liquidação. Pelligonha, o mascote das Fuinhas, tinha tanto medo de ver o que poderia estar acontecendo com aqueles dançarinos esquisitos que resolveu adotar a moda Ku Klux Khan, socou um saco preto na cabeça. Estava ali só para dar apoio moral, pois o ar de romantismo que rondava marIN era tão sem noção, que ficou ali ouvindo aquela canção que parecia ser a única do disco.


Ao contrário do clima romântico de marIN, Harley olhava-se de frente ao espelho. Estava na mesma posição há mais de 1 hora. O casal de urubu que devido a data especial, estavam com a plumagem rosa, depois de terem ganhado o concurso Bicou Beijou observava aquela criaturinha metida a gênia, que de repente passou a tirar e colocar os óculos ininterruptamente.

- hummm....que estranho! Com ou sem óculos minha beleza está aquém desses reles mortais que buscam no amor o sentido da vida. – dizia ela para si mesma

Num sobressalto, levantou-se da poltroninha de búfalo anão, foi até a estante, procurou pelo livro de ouro dos filósofos.

- Aqui está! Amor platônico!


Colocou os óculos e sublinhou o que achou de mais interessante.
Amor platônico - É o amor essencialmente puro, virginal e desprovido de paixões

Pegou o telefone e discou rapidamente. O casal de urubu que apesar de ser dias dos namorados acharam melhor ficar ali espiando o que aquele ser de cabeça pequena e hipotálamo grande iria fazer.

- Floricultura Porco-espinho bom dia!
- Quero fazer uma encomenda!
- Do que?
- De bacalhau! Que pergunta estúpida!
- Desculpe! A senhora pelo visto é solteira!
- Não sou, mas você pode ficar viúvo! Preciso de um arranjo com 365 rosas vermelhas.
- Para qual endereço será a entrega?
- Floresta dos Troncos Ocos, alameda dos esquilos, 003.
- E o destinatário?
- Harley a única que entende meu amor! Assinado Platão.

Desligou e foi correndo para janela. Os urubus voaram para longe ao ver um teco-teco rosa bolado de vermelho sobrevoando baixo sobre a floresta.

Além da música de mariN que podia ser escutada em Marte, uma outra canção tomou conta do espaço aéreo.




“Ó meu amado porque brigamos
Não posso mais viver assim sempre chorando
A minha paz estou perdendo
A nossa vida deve ser de alegria, pois eu lhe amo tanto”


- Se amar é ser cafona, quero morrer chique. – disse ela olhando Wandinha naquele clima nostálgico de breguice

Fuly que para perder a paciÊncia só basta achá-la, desceu para o térreo. Estava de luto, pois seus trajes em contraste com o colorido da floresta era negro. Segurando uma espingarda de chumbinho ela mirava no teco-teco de Wandinha.

Wandinha era um ás nas alturas, tanto que nos testes para o filme Ases Indomáveis a produção do filme ficou em dúvida entre ela ou o Tom. Esse mesmo o Cruise.

O teco-teco desviava dos chumbinhos facilmente. E a cada desvio ela aumentava ainda mais o som da música. Mal sabia que aqueles tiros eram para ela e não para o bando de urubus rosados que a seguia.

- Wandinha eu vou te matar. Desce daí sua piriguete de quinta!

Ela abanava as mãos lá de cima informando que ia aterrissar. Puxou o manche e o teco-teco desceu engasgado com o motor falhando. Wandinha sentiu um troço frio na sua testa, era o cano da espingarda de Fuly.

- Desliga essa fubazeira agora! – gritou com ódio nos olhos
- Ele me largou Fuly. Preciso dizer a ele o quanto o amo.

Sem ouvir os choramingos de sua prima, Fuly nem pensou duas vezes e atirou no aparelho de som.

- Com licença! É aqui que mora Harley? – perguntou um homem numa caminhonete que trazia na caçamba um bouquet gigante de rosas.
- É sim, mas ela ainda está viva!
- Como não entendi?
- Sai para lá Fuly! – exclamou Harley a empurrando
- Esse bouquet é para você! – disse o entregador

marIN que havia notado um certo alvorço, saiu do porão e foi zunindo lá para fora.

- Aposto que essas rosas são para mim! – exclamou abrindo os braços para receber as flores

Quando viu aquele divino bouquet de centenas de rosas vermelhas serem entregues para Harley, marIn não se conteve e começou a chorar compulsivamente.

Fuly tomou o cartão das mãos de Harley e leu em voz alta:
>Harley a única que entende meu amor! Assinado Platão

- Como ele pode fazer isso comigo? Eu que me mantive fiel todos esses anos e que sempre o desejei de forma platônica. Seu ingrato! - disse marIN em cântaros

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